
Pois é, André. Essa questão do nada é bem estranha.
Mas tenho uma pergunta pra você então: Se o nada nem é... Se ele, não podendo existir para manter-se fiel a seu próprio conceito, de fato inexiste... No nosso universo conhecido então não existe algo que não seja tudo (já que o nada já não existe mais, segundo essas nossas deduções). Só há o tudo, então? Talvez, no máximo, além do tudo, só as partes. Só os diversos pedaços finitos. Porém, estes ainda assim fazem parte do tudo.
Temos que reconhecer, na verdade, que o nada e o tudo não podem existir ao mesmo tempo. Se há o nada, não é possível haver coisa alguma, nem uma mínima partícula, porque ela já seria o tudo (ela seria TUDO que havia nesse universo). Se há o tudo, não é possível haver o nada, porque a condição para haver o nada é não haver uma partícula sequer. É nem haver.:-)
Mas se o nada inexiste, o que é isso então que eu chamo de nada? Como pode haver essa idéia na minha cabeça, se essa idéia não existe (já que o nada inexiste)?
Realmente eu não consigo imaginar o nada, porque para imaginar o nada eu teria que imaginar um vazio de tudo, até da minha consciência (do meu ser). Aí já não dá mais, porque tudo que imagino é através da minha consciência.
Aí surge outro enigma foda: Como posso então formular um conceito (e falar sobre isso) de alguma coisa que nem consigo imaginar? Como posso falar com você sobre o nada se nem consigo imaginar o nada?
A única coisa que consigo imaginar é um universo vazio onde só há a minha consciência observando. Mesmo assim é foda. Porque: observando o quê? O vazio? O vazio já é alguma coisa, porque consigo formular uma idéia de unidade: um espaço vazio, mesmo que infinito. Já não é o nada.
Mas voltando, então... Será que quando falamos do nada estamos falando de um vazio com uma consciência observando?
Se o nada inexiste, do que estamos falando?
É como falar de xdfsdff. O que é xdfsdff?
Mas tem ainda outra questão. Se eu consigo dar nome a xdfsdff, mesmo que eu nem saiba nada sobre xdfsdff, xdfsdff já existe. Como o pós-vida. Não sei nada sobre o que vem depois da morte, mas chamo isso de pós-vida, então isso existe. Então existindo, já é alguma coisa no universo das coisas conhecidas.
Então, se damos nome ao nada, ele já é alguma coisa, ele existe. Teríamos que falar então: "existe o tudo e o ..." ou melhor: "existe o tudo e o ".
Mas não dá no mesmo que falar: "Só existe o tudo"?
E se eu dissesse: "Só existe o Cachorro Verde"... Não poderia automaticamente falar de uma coisa chamada: "Ausência do Cachorro Verde?". Então a ausência de tudo também não é o nada, porque é alguma coisa.
Só consigo chegar a 2 respostas provisórias possíveis sobre essa questão:
1) O que eu normalmente chamo de nada, de forma equivocada, é um universo vazio onde só há a minha consciência observando. Mas isso está errado, porque o nada não pode ser imaginado, porque pra imaginar é necessário uma consciência (que já é alguma coisa). Então o nada é inimaginável. Mas essa resposta é falha, porque ainda assim ele é concebível, porque posso chamar o nada de "a ausência de tudo, até da minha consciência", e já posso incorporar isso ao universo das coisas que conheço e existem pra mim.
ou:
2) O nada é um conceito muito muito interessante, porque ele "aciona um comando de auto-destruição" ao ser trazido à mente. Da seguinte forma: Penso:
- o que é o nada?
- É a a ausência de todas as coisas.
- Mas isso é alguma coisa.
- Então isso não é o nada. Então o nada não existe. Logo, ele não-é. Então, temos uma falha lógica no nosso "programa" mental. Algo que é (porque pode ser nomeado) e não é ao mesmo tempo. Uma coisa que ao ser chamada, se auto-destrói, desaparecendo do universo. Não podemos falar sobre ele, porque qualquer afirmação que tentarmos fazer será errada, porque ao falar dele estamos dando um lugar a ele, um nome, e esse nome dele diz que ele não pode ter um nome. Ele nem pode. Ele nem. Nem ele. Nem um lugar vazio podemos deixar para ele. Nem dizer que ele é "a ausência de tudo até de nossa consciência" nós podemos. E isso é um bug na nossa razão. E o raciocínio então seria:
- o que é o nada?
- Não sou capaz de afirmar nada quanto a isso. Não conheço isso, mesmo julgando conhecer. Poderia dizer que "é um conceito auto-destrutivo que se vale de uma falha lógica na minha consciência", mas nem isso eu posso, porque isso é atribuir uma idéia ao nada. Me pergunte sobre outra coisa que não dê bug.
Ainda assim, as respostas 1) e 2) deixam outras perguntas e algumas falhas evidentes:
- Como é possível dar nome a uma coisa que não pode ser nomeada? Atribuir um significado a uma coisa que não pode ter significado?
- Então, já que a nossa lógica tem uma falha, será que isso não comprometeu todo o conhecimento lógico construído ao longo dos séculos? Ou será que isso não afetou o resto? Dá pra confiar em um programa de computador que tenha uma falha?
- Será que é uma limitação nossa só conseguir conhecer coisas existentes? (por termos um mecanismo de atribuir uma idéia e um significado às coisas para podermos incorporá-las e pensar sobre elas).
- Será que no conceito de nada não estaria a chave para descobrirmos um jeito de conhecermos tudo? Ou pelo menos mais do que somos capazes? Porque se o nada evidencia uma limitação nossa, refletindo sobre essa limitação, talvez possamos descobrir os limites da nossa consciência e assim talvez também criar um algoritmo, uma equação que compensasse essa falha e nos permitisse driblar essa limitação.
Já que o nada é um conceito auto-destrutivo, exclusivo por natureza, talvez o tudo seja um conceito auto-construtivo e, inclusivo por natureza, e realmente tudo que seja possível existir realmente exista.
Obs.: Se algum filósofo estiver lendo isso, não me xingue. Eu não sou filósofo, li muito muito pouco sobre isso (só uns livros sobre Sócrates e Platão) e essas coisas são especulações assumidamente leigas.
Ô André, diz aí o que você acha disso tudo! ;-)
Falou!