Patrícia Carla - tirinha número 15
Thursday, September 24, 2009
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Wednesday, September 16, 2009
Tuesday, September 08, 2009
Saturday, September 05, 2009
Patrícia Carla, tirinhas 1, 2 e 3:
Patrícia Carla é uma personagem que eu criei em Fevereiro de 2007, para correr pelos blogs dos desenhistas amigos, passando por eles e sendo desenhada por cada um com seu traço. A lista de links desta corrida está no post original, atualizado, aqui no Bibi Fonfon. Confira aqui.
Patrícia Carla é uma personagem que eu criei em Fevereiro de 2007, para correr pelos blogs dos desenhistas amigos, passando por eles e sendo desenhada por cada um com seu traço. A lista de links desta corrida está no post original, atualizado, aqui no Bibi Fonfon. Confira aqui.
Friday, November 28, 2008
Monday, September 15, 2008
Um bicho meio como um suricate.
André, comentei alguns dos textos aí embaixo. Estão muito boas as narrativas. Foda.
Tuesday, April 15, 2008
Existe um gesto mágico capaz de travar a evacuação dos cachorros, não sei se é apenas brincadeira de criança, ou folclore urbano, aí estão as instruções:
1 - Mão direita aberta.
2 - O mindinho se desloca em direção ao polegar (não dobre o mindinho).
3 - "Abrace" o mindinho com o anular e o dedo médio, ajudando o mindinho a deslocar-se um pouco mais. Os outros dedos podem dobrar-se, o mindinho deve permanecer reto.
4 - No final, com a aproximação do indicador, o gesto está pronto.
5 - Marcelo Adnet (do programa "15 Minutos" da MTV) fazendo o gesto. Para que funcione, deve-se tensionar os dedos, aplicando pressão sobre o mindinho. O mindinho deve ficar alinhado com o braço, apontando para o cachorro. Tensione o braço também. Se não surtir efeito, gaça o gesto com a outra mão.
1 - Mão direita aberta.
2 - O mindinho se desloca em direção ao polegar (não dobre o mindinho).
3 - "Abrace" o mindinho com o anular e o dedo médio, ajudando o mindinho a deslocar-se um pouco mais. Os outros dedos podem dobrar-se, o mindinho deve permanecer reto.
4 - No final, com a aproximação do indicador, o gesto está pronto.
5 - Marcelo Adnet (do programa "15 Minutos" da MTV) fazendo o gesto. Para que funcione, deve-se tensionar os dedos, aplicando pressão sobre o mindinho. O mindinho deve ficar alinhado com o braço, apontando para o cachorro. Tensione o braço também. Se não surtir efeito, gaça o gesto com a outra mão.
Thursday, March 27, 2008
-- Gervizio e os Lobos (parte 2) --
Semanas atrás um lobo selvagem foi mordido por um homem cujos genes foram alterados por longa exposição a material radioativo. Durante dias o lobo não sentiu nada de anormal, aliás, ele nem era capaz de formular um conceito de "normalidade", muito menos de discernir uma coisa da outra. Até que veio a primeira Lua Cheia desde o ataque que aquele homem estranho havia feito. Sua ferida começou a doer e seu organismo, a se modificar.
Antes de qualquer mudança visível, dores monstruosas transformaram o espírito livre do lobo em estresse e dores de cabeça lancinantes, típicas de um homem moderno.
Seus ossos se moveram, estalando e rachando-se, assumindo uma nova forma e inédita posição.
Seus pêlos deminuíram, e já se podia falar em cabelo.
Suas patas perderam as características caninas, seus dedos cresceram e seu córtex cerebral se multiplicou.
Ele estava feliz, pois conseguia entender que as mudanças em seu corpo lhe abria novas possibilidades nunca antes dadas a um lobo.
Algumas mudanças eram mais dolorosas do que outras.
Seus novos poderes de homem comum lhe traziam um ônus nunca antes imaginado.
Ele não se abateu, levantou-se, e mais mudanças se seguiram.
Patas traseiras cresceram e incharam-se.
Até que se arrebentaram, revelando um par de sapatênis azul, bem atual e descolado.
Quando surgiu um celular na sua cintura, ele estava pronto:
O Homenzilobo ! Lobo com os poderes de um homem comum, a solta na floresta, sob a Lua, caminhando na relva e olhando as estrelas.
Semanas atrás um lobo selvagem foi mordido por um homem cujos genes foram alterados por longa exposição a material radioativo. Durante dias o lobo não sentiu nada de anormal, aliás, ele nem era capaz de formular um conceito de "normalidade", muito menos de discernir uma coisa da outra. Até que veio a primeira Lua Cheia desde o ataque que aquele homem estranho havia feito. Sua ferida começou a doer e seu organismo, a se modificar.
Antes de qualquer mudança visível, dores monstruosas transformaram o espírito livre do lobo em estresse e dores de cabeça lancinantes, típicas de um homem moderno.
Seus ossos se moveram, estalando e rachando-se, assumindo uma nova forma e inédita posição.
Seus pêlos deminuíram, e já se podia falar em cabelo.
Suas patas perderam as características caninas, seus dedos cresceram e seu córtex cerebral se multiplicou.
Ele estava feliz, pois conseguia entender que as mudanças em seu corpo lhe abria novas possibilidades nunca antes dadas a um lobo.
Algumas mudanças eram mais dolorosas do que outras.
Seus novos poderes de homem comum lhe traziam um ônus nunca antes imaginado.
Ele não se abateu, levantou-se, e mais mudanças se seguiram.
Patas traseiras cresceram e incharam-se.
Até que se arrebentaram, revelando um par de sapatênis azul, bem atual e descolado.
Quando surgiu um celular na sua cintura, ele estava pronto:
O Homenzilobo ! Lobo com os poderes de um homem comum, a solta na floresta, sob a Lua, caminhando na relva e olhando as estrelas.
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Thursday, March 20, 2008
-- Gervizio e os Lobos (parte 1) --
Gervízio trabalhava numa usina nuclear tão radioativa que as paredes brilhavam, mas ele tinha o peito cabeludo e cuspia no chão, era raçudo, dispensava o uso de roupas de proteção. Ele conquistou sua esposa não só porcausa dos seus olhos claros, mas também porcausa dos seus olhos luminosos. O bocejo dele tinha aquele barulho de flash de câmera fotográfica recarregando-se, tssuuuiiiimmm. Ele nem precisava acender os faróis do carro para digir a noite, na cidade, e jamais comprava gasolina; o carro funcionava a base de seu suor atômico.
Mas sua sorte mudou quando, certa vez, a diretoria da usina marcou uma viagem de férias para um resort no último feriadão, muitas centenas de quilômetros distante. Para chegar lá, algumas pessoas foram de helicóptero, outras de jatinho. Mas Gervízio era raçudo, ele foi de carro, a noite, com os faróis apagados. Infelizmente, na estrada, a luminosidade não é a mesma da cidade, e até com seus olhos de thundercant Gervízio não conseguia ver porra nenhuma e acabou batendo violentamente contra alguma coisa que ninguém podia identificar, de tão escura que estava aquela noite. Gervízio foi atirado pra fora do carro com tanta violência que perdeu a consciência e só acordou no dia seguinte, deitado sobre um descampado irreconhecível. Ele andou por horas sem achar a estrada. Andou por dias sem achar civilização. Então, após a sede, apareceu a fome, e ele procurou o que comer.
Apertou os olhos e viu no horizonte alguns lobos devorando a carcaça de uma zebra senegaleza, a mais saborosa. Ele foi correndo até lá, mas antes de chegar no meio do caminho já tinha percebido que a zebra estava vazia, os canídeos a haviam comido totamente, frente e verso. "Lobos safados," e logo prosseguiu: "cara, eles devem estar cansados após perseguirem e matarem esta zebra, vai ser fácil pegar um destes...". Gervízio se aproximou sorrateiramente e pegou 3 lobos de uma vez, já que ele era raçudo. Só conseguiu matar um, a dentadas, apesar de ter ferido gravemente os outros dois. Comeu metade de sua presa na mesma hora, crua, e levou a outra metade sobre os ombros. Na floresta, o orvalho da alvorada, manhã após manhã, dava energia a Gervízio mais do que uma usina nuclear era capaz de fazer.
Meses depois, finalmente, ele encontrou a estrada que procurava e pôde ir ao encontro dos colegas de trabalho, no distante resort. Mas ele chegou atrasado e quase foi despedido por isso. Só manteve o emprego porque a usina apreciava a economia do traje de proteção que ele dispensava. FIM.
Gervízio trabalhava numa usina nuclear tão radioativa que as paredes brilhavam, mas ele tinha o peito cabeludo e cuspia no chão, era raçudo, dispensava o uso de roupas de proteção. Ele conquistou sua esposa não só porcausa dos seus olhos claros, mas também porcausa dos seus olhos luminosos. O bocejo dele tinha aquele barulho de flash de câmera fotográfica recarregando-se, tssuuuiiiimmm. Ele nem precisava acender os faróis do carro para digir a noite, na cidade, e jamais comprava gasolina; o carro funcionava a base de seu suor atômico.
Mas sua sorte mudou quando, certa vez, a diretoria da usina marcou uma viagem de férias para um resort no último feriadão, muitas centenas de quilômetros distante. Para chegar lá, algumas pessoas foram de helicóptero, outras de jatinho. Mas Gervízio era raçudo, ele foi de carro, a noite, com os faróis apagados. Infelizmente, na estrada, a luminosidade não é a mesma da cidade, e até com seus olhos de thundercant Gervízio não conseguia ver porra nenhuma e acabou batendo violentamente contra alguma coisa que ninguém podia identificar, de tão escura que estava aquela noite. Gervízio foi atirado pra fora do carro com tanta violência que perdeu a consciência e só acordou no dia seguinte, deitado sobre um descampado irreconhecível. Ele andou por horas sem achar a estrada. Andou por dias sem achar civilização. Então, após a sede, apareceu a fome, e ele procurou o que comer.
Apertou os olhos e viu no horizonte alguns lobos devorando a carcaça de uma zebra senegaleza, a mais saborosa. Ele foi correndo até lá, mas antes de chegar no meio do caminho já tinha percebido que a zebra estava vazia, os canídeos a haviam comido totamente, frente e verso. "Lobos safados," e logo prosseguiu: "cara, eles devem estar cansados após perseguirem e matarem esta zebra, vai ser fácil pegar um destes...". Gervízio se aproximou sorrateiramente e pegou 3 lobos de uma vez, já que ele era raçudo. Só conseguiu matar um, a dentadas, apesar de ter ferido gravemente os outros dois. Comeu metade de sua presa na mesma hora, crua, e levou a outra metade sobre os ombros. Na floresta, o orvalho da alvorada, manhã após manhã, dava energia a Gervízio mais do que uma usina nuclear era capaz de fazer.
Meses depois, finalmente, ele encontrou a estrada que procurava e pôde ir ao encontro dos colegas de trabalho, no distante resort. Mas ele chegou atrasado e quase foi despedido por isso. Só manteve o emprego porque a usina apreciava a economia do traje de proteção que ele dispensava. FIM.
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Wednesday, March 12, 2008
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Monday, March 10, 2008
-- Como vai acabar o Mundo --
Foi o cheiro de pólvora que atraiu o pequeno Heliápiro para o alto da colina. Lá, as crianças mais velhas gostavam de brincar com espingardas de pressão e bombas de São João, estourando latas de leite e explodindo formigueiros. Heliápiro, incauto, pegou 3 bombas numa mão, o máximo que conseguia segurar ao mesmo tempo, dada sua reduzida idade, e as acendeu ao mesmo tempo para ver o que acontecia. Ele perdeu a mão inteira com a explosão, foi isso que aconteceu. A lição que as crianças mais velhas tiraram disso foi que eles deveriam ter sido mais perversos com os vizinhos menores, afim de que tivessem medo e não se aproximassem quando estivessem brincando lá no alto da colina, Heliápiro nem tinha idade para ir à escola, ele não tinha lição alguma, só susto e medo.
Mas nada disso foi mais grave do que viria a acontecer nos anos seguintes.
A dona Gezimuna, mãe de Heliápiro, foi atrás de uma indenização pelos danos físicos e psicológicos que atingiram seu querido filho e conseguiu uma indenização astronômica pelos danos físicos e uma indenização inimaginável pelos danos psicológicos, totalizando uma quantia absurda. A dona Gezimuna pegou metade desta grana e investiu na educação da família inteira, com a outra metade ela montou uma fundação para lutar contra a indústria bélica. 20 anos depois, um dos seus sobrinhos se tornava o melhor, mais preparado, mais competente e o mais foda advogado do Mundo. Foi porcausa dele que a fundação da dona Gezimuna derrubou todos os argumentos a favor das armas, nos debates transmitidos pela TV. As pessoas se tornaram mais "conscientes" e a venda de armas diminuiu 100%. A indústria bélica faliu e os exércitos de todos os países foram se desmantelando paulatinamente ao longo de rápidos 5 anos.
Não havia mais conflito armado, nem de país contra país, nem de grupos terroristas contra refrigerantes, nem de torcidas organizadas, não havia nada. Passou o prazo de validade das maiores armas de destruição em massa e já não se temia mais os mais famosos nomes do Mal. Os políticos perderam relevância. As armas eram coisa do passado, e foi aí que a Era das trevas começou: os noticiários e jornais do planeta tiveram que diminuir seu grau de exigência para notícias importantes, e agora só se falava em celebridades. Na capa da TIME, nas breaking-News da CNN, na primeira página do Washington Post, na tela inicial do Bibi Fonfon, no Em Cima da Hora da GloboNews, na voz de Dan Rather, enfim, em todo veículo de comunicação só se falava no cotidiano de pessoas famosas e até das meio-famosas.
Uma geração inteira cresceu sob esta influência, tendo como preocupação máxima a necessidade de saber como era o côco de seus ídolos, pois todos os fãs o imitariam assim que o vissem.
Logo, para atender a demanda da população por este tipo de conteúdo, as agências de notícias derrubaram a barreira que separava famosos de anônimos, e todo Mundo estava na televisão com seus hábitos comuns e comportamentos exageradamente simples, uma hipervalorização das singelezas das coisas. Você lia jornal para saber coisas como: um homem de óculos limpa suas lentes na praça dos correios, um cachorro fareja as marcações de território feitas pela urina de outro cachorro, uma criança é carregada pela babá na ocasião de andar por uma poça de água. Certa vez o Mundo parou quando assistiu, ao vivo, um restaurador de antiguidades deslocar o ombro numa queda pelas escadarias de uma faculdade em ruínas.
Então chegou o dia em que os lingüistas magos dos 50 maiores idiomas do Mundo se reuniram e concluíram que fama e anomicidade se tornaram sinônimos. Todas as pessoas tinham seus próprios programas de TV, e quem trabalhava na produção desses reality-shows também era astro de programas que mostravam a vida daqueles que trabalhavam em reality-shows. A idéia de "making-of" do "making-of" cresceu tanto que interferiu no comportamento das pessoas, fazendo com que todo Mundo raciocinasse entre parênteses e isso trouxe a vontade em sublimar o ser-presente, como se se deslocasse do "eu-interior" para comentar sobre si mesmo ou sobre o instante em si. Por exemplo, um grupo de amigos conversando, em vez de conversarem sobre assuntos diretos, eles conversam sobre a situação de se estar ali conversando, como se estivessem observando a reunião de fora, como se estivessem assistindo a uma cena, como se fossem astros e estrelas de uma peça e a percepção entre parênteses lhes dessem a sensação de pertencerem também aos bastidores da peça. Mas isso é passado, o que ocorre depois deste tempo todo é que as pessoas conversam sobre o fato de conversarem sobre o fato de conversarem sobre o fato de conversarem, e esta prática concêntrica sempre crescendo, the coolest guy é aquele que mais se distancia do aqui-agora, abrindo o máximo destes parênteses de abordagem de uma situação.
Ninguém se referia mais aos fatos, só ao fato de se referirem aos fatos de se referirem aos fatos, e cada vez mais abordagens em cima de abordagens, até chegar ao ponto em que os fatos concretos ficaram distantes demais do trato da pessoas, e assim o Mundo acabou, você ia ao mercado para comprar alimentos e não conseguia comprar nada, pois tinha o hábito de falar sobre o fato de falar sobre o fato de comprar alimentos, e não conseguia comprar nada ! O serviço de saneamento parou porque os funcionários que se reuniam nas empresas ouviam dos diretores apenas comentários sobre o fato de se falar sobre o fato de se falar sobre o fato de limpar a cidade, e ninguém fazia nada de verdade. A Humanidade morreu de fome, doente, sem tratamento médico, sem gasolina para encher o tanque das ambulâncias, sem eletricidade porque não havia ninguém de atitude para apertar uns botões nas salas de comando das hidrelétricas. Foi o fim do Mundo.
-------------------------------------------
nota: apesar do texto se referir às armas no começo, eu não estou defendendo o uso de armas como condição para o funcionamento do Mundo, nem o contrário. As armas foram só um gatilho para a viagem e para a brincadeira com o que pode vir a ser o comportamento das pessoas num futuro onde gerações inteiras são educadas pela parte fagedênica da indústria do entretenimento.
Foi o cheiro de pólvora que atraiu o pequeno Heliápiro para o alto da colina. Lá, as crianças mais velhas gostavam de brincar com espingardas de pressão e bombas de São João, estourando latas de leite e explodindo formigueiros. Heliápiro, incauto, pegou 3 bombas numa mão, o máximo que conseguia segurar ao mesmo tempo, dada sua reduzida idade, e as acendeu ao mesmo tempo para ver o que acontecia. Ele perdeu a mão inteira com a explosão, foi isso que aconteceu. A lição que as crianças mais velhas tiraram disso foi que eles deveriam ter sido mais perversos com os vizinhos menores, afim de que tivessem medo e não se aproximassem quando estivessem brincando lá no alto da colina, Heliápiro nem tinha idade para ir à escola, ele não tinha lição alguma, só susto e medo.
Mas nada disso foi mais grave do que viria a acontecer nos anos seguintes.
A dona Gezimuna, mãe de Heliápiro, foi atrás de uma indenização pelos danos físicos e psicológicos que atingiram seu querido filho e conseguiu uma indenização astronômica pelos danos físicos e uma indenização inimaginável pelos danos psicológicos, totalizando uma quantia absurda. A dona Gezimuna pegou metade desta grana e investiu na educação da família inteira, com a outra metade ela montou uma fundação para lutar contra a indústria bélica. 20 anos depois, um dos seus sobrinhos se tornava o melhor, mais preparado, mais competente e o mais foda advogado do Mundo. Foi porcausa dele que a fundação da dona Gezimuna derrubou todos os argumentos a favor das armas, nos debates transmitidos pela TV. As pessoas se tornaram mais "conscientes" e a venda de armas diminuiu 100%. A indústria bélica faliu e os exércitos de todos os países foram se desmantelando paulatinamente ao longo de rápidos 5 anos.
Não havia mais conflito armado, nem de país contra país, nem de grupos terroristas contra refrigerantes, nem de torcidas organizadas, não havia nada. Passou o prazo de validade das maiores armas de destruição em massa e já não se temia mais os mais famosos nomes do Mal. Os políticos perderam relevância. As armas eram coisa do passado, e foi aí que a Era das trevas começou: os noticiários e jornais do planeta tiveram que diminuir seu grau de exigência para notícias importantes, e agora só se falava em celebridades. Na capa da TIME, nas breaking-News da CNN, na primeira página do Washington Post, na tela inicial do Bibi Fonfon, no Em Cima da Hora da GloboNews, na voz de Dan Rather, enfim, em todo veículo de comunicação só se falava no cotidiano de pessoas famosas e até das meio-famosas.
Uma geração inteira cresceu sob esta influência, tendo como preocupação máxima a necessidade de saber como era o côco de seus ídolos, pois todos os fãs o imitariam assim que o vissem.
Logo, para atender a demanda da população por este tipo de conteúdo, as agências de notícias derrubaram a barreira que separava famosos de anônimos, e todo Mundo estava na televisão com seus hábitos comuns e comportamentos exageradamente simples, uma hipervalorização das singelezas das coisas. Você lia jornal para saber coisas como: um homem de óculos limpa suas lentes na praça dos correios, um cachorro fareja as marcações de território feitas pela urina de outro cachorro, uma criança é carregada pela babá na ocasião de andar por uma poça de água. Certa vez o Mundo parou quando assistiu, ao vivo, um restaurador de antiguidades deslocar o ombro numa queda pelas escadarias de uma faculdade em ruínas.
Então chegou o dia em que os lingüistas magos dos 50 maiores idiomas do Mundo se reuniram e concluíram que fama e anomicidade se tornaram sinônimos. Todas as pessoas tinham seus próprios programas de TV, e quem trabalhava na produção desses reality-shows também era astro de programas que mostravam a vida daqueles que trabalhavam em reality-shows. A idéia de "making-of" do "making-of" cresceu tanto que interferiu no comportamento das pessoas, fazendo com que todo Mundo raciocinasse entre parênteses e isso trouxe a vontade em sublimar o ser-presente, como se se deslocasse do "eu-interior" para comentar sobre si mesmo ou sobre o instante em si. Por exemplo, um grupo de amigos conversando, em vez de conversarem sobre assuntos diretos, eles conversam sobre a situação de se estar ali conversando, como se estivessem observando a reunião de fora, como se estivessem assistindo a uma cena, como se fossem astros e estrelas de uma peça e a percepção entre parênteses lhes dessem a sensação de pertencerem também aos bastidores da peça. Mas isso é passado, o que ocorre depois deste tempo todo é que as pessoas conversam sobre o fato de conversarem sobre o fato de conversarem sobre o fato de conversarem, e esta prática concêntrica sempre crescendo, the coolest guy é aquele que mais se distancia do aqui-agora, abrindo o máximo destes parênteses de abordagem de uma situação.
Ninguém se referia mais aos fatos, só ao fato de se referirem aos fatos de se referirem aos fatos, e cada vez mais abordagens em cima de abordagens, até chegar ao ponto em que os fatos concretos ficaram distantes demais do trato da pessoas, e assim o Mundo acabou, você ia ao mercado para comprar alimentos e não conseguia comprar nada, pois tinha o hábito de falar sobre o fato de falar sobre o fato de comprar alimentos, e não conseguia comprar nada ! O serviço de saneamento parou porque os funcionários que se reuniam nas empresas ouviam dos diretores apenas comentários sobre o fato de se falar sobre o fato de se falar sobre o fato de limpar a cidade, e ninguém fazia nada de verdade. A Humanidade morreu de fome, doente, sem tratamento médico, sem gasolina para encher o tanque das ambulâncias, sem eletricidade porque não havia ninguém de atitude para apertar uns botões nas salas de comando das hidrelétricas. Foi o fim do Mundo.
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nota: apesar do texto se referir às armas no começo, eu não estou defendendo o uso de armas como condição para o funcionamento do Mundo, nem o contrário. As armas foram só um gatilho para a viagem e para a brincadeira com o que pode vir a ser o comportamento das pessoas num futuro onde gerações inteiras são educadas pela parte fagedênica da indústria do entretenimento.
Saturday, March 01, 2008
-- Grilagem de tempo --
Na época dos dinossauros, aqueles bichinhos barulhentos e cheios de porcaria presa nos sucos de suas rugas escamosas, o planeta Terra permaneceu igual por milhões de anos. E assim foi por outros milhões de anos, o céu, o mar, os vulcões e o enxofre. Na alvorada e no crepúsculo, plantas, insetos e dinossauros. E então, sem certeza da naturalidade ou da casualidade da evolução, despontam os primatas. Os homemlopitecos viveram suas vidas num planeta virgem, mantiveram-no assim por milhares de anos, sem qualquer mudança tecnológica ou cultural. Tive uma professora que viveu naquela época e ela me disse que, quando era criança, não existia chuveiro quente porque ninguém tinha conseguido controlar o fogo ainda. E quando era adolescente costumava posar como modelo para um escultor que, das suas medidas, tirou esboços do que viria a ser a primeira roda. Enfim, ela era muito antiga, e independente disso tudo, qualquer livro de História da Humanidade, se for correto, deverá mostrar que o crescimento da espécie humana é exponencial, tanto culturalmente, quanto numericamente e, ainda mais, tecnologicamente.
Veja o que mudou do ano 9008 a.C. para o ano 7008 a.C. ? Talvez, no máximo, um novo estilo de nó, mais eficiente, para a amarração das tangas de pele. 2 mil anos se passando e a descoberta de como se fazer um novo nó foi a maior mudança de lifestyle da Humanidade. Não havia nem high-school pra uma cheerleader ser invejada pelo seu nó mais moderno, enquanto os nerdhertais (nerds que liam revistas hentais) apanhavam do capitão do time de futebol da escola. Nenhum homem das cavernas de 1000 anos de idade jamais falaria "no meu tempo que era bom", caso tivesse nascido em 9008 a.C. e conhecido, com clareza e lucidez, o ano de 8002 a.C. Por que ? Porque nada havia mudado no período de diversas gerações. Antes as coisas mudavam muito lentamente. Repare o que mudou do ano 1000 para 1500. Particularmente pra mim, enquanto desenhista, a mudança é gigante: no ano 1000 ninguém conseguia desenhar perspectiva ! Todos os desenhos e pinturas eram chapadões, como os desenhos dos egípcios antigos ou um pouco mais elaborados (já faziam pessoas com rosto de frente, óóó). Em 1500 eram outros 500, os desenhos eram muito mais ricos, tinham mais cores, tinham perspectiva, volume e qualquer pessoa com, no mínimo, um olho bom, poderia reconhecer alguém numa pintura. As roupas eram mais confortáveis, os castelos começaram a se tornar mais aconchegantes, enfim, em toda a cultura e nos hábitos das pessoas, estes 500 anos trouxeram mudanças muito mais substanciais do que nos 2 mil anos que separaram 9000 a.C. de 7000 a.C.
Veja o que mudou de 1900 para 2000. Apenas 100 anos fizeram o Mundo inteiro mudar mais do que nos 500 anos lá na Idade Média ou naqueles 2 mil na Idade Antiga. E de 2000 para 2008, então ??? Antes as músicas com 5Mb eram arquivos pesados, agora manipulamos da mesma maneira os filmes de 700Mb.
Esta aceleração exponencial fez a percepção do tempo se descolar da passagem do tempo real, e as pessoas já consideram o próprio tempo uma imensa tartaruga cósmica. Querem a prova ? Aí está: vão a uma loja super descolada, lá vocês podem encontrar bonés com abas descascadas e jeans que vêm da fábrica já desbotados. São mercadorias novas, ninguém as usou, só têm a aparência de desgastados e as pessoas compram estes produtos novos que têm aparência de tempo de uso, já não é preciso usar um jeans por 10 anos para ele parecer surrado, você pode comprar um novinho e, mesmo assim, andar por aí mostrando a todos que você e aquele jeans têm muitas histórias pra contar.
Outro sintoma deste fenômeno pode ser visto na televisão. Vários clipes com aquele tratamento pra parecer de 2 décadas atrás. Você certamente já viu bandas dizendo que filmaram em super8, ou que aplicaram um filtro de computador pro vídeo ter uma textura datada, independetemente de ser bonito, o recurso de envelhecer artificalmente um vídeo têm como objetivo a apropriação de um tempo que ninguém está disposto a acompanhar. É a falta de paciência com o próprio tempo, atenção para não confundir com antipatia pelo progresso das coisas, é ótimo que o dinheiro circule na bolsa de valores com agilidade e que todos os serviços da minha cidade fiquem abertos 24 horas de domingo a domingo. O foco aqui é o desinteresse em viver as histórias que, depois, você poderá contar. Há esta urgência em ter um monte de capítulos na nossa biografia, mas não há, com a mesma intensidade, fôlego para escrever tanta coisa. Como se só se fizesse as coisas pra contar aos outros, não se faz mais nada pelo interesse em fazê-las.
Na época dos dinossauros, aqueles bichinhos barulhentos e cheios de porcaria presa nos sucos de suas rugas escamosas, o planeta Terra permaneceu igual por milhões de anos. E assim foi por outros milhões de anos, o céu, o mar, os vulcões e o enxofre. Na alvorada e no crepúsculo, plantas, insetos e dinossauros. E então, sem certeza da naturalidade ou da casualidade da evolução, despontam os primatas. Os homemlopitecos viveram suas vidas num planeta virgem, mantiveram-no assim por milhares de anos, sem qualquer mudança tecnológica ou cultural. Tive uma professora que viveu naquela época e ela me disse que, quando era criança, não existia chuveiro quente porque ninguém tinha conseguido controlar o fogo ainda. E quando era adolescente costumava posar como modelo para um escultor que, das suas medidas, tirou esboços do que viria a ser a primeira roda. Enfim, ela era muito antiga, e independente disso tudo, qualquer livro de História da Humanidade, se for correto, deverá mostrar que o crescimento da espécie humana é exponencial, tanto culturalmente, quanto numericamente e, ainda mais, tecnologicamente.
Veja o que mudou do ano 9008 a.C. para o ano 7008 a.C. ? Talvez, no máximo, um novo estilo de nó, mais eficiente, para a amarração das tangas de pele. 2 mil anos se passando e a descoberta de como se fazer um novo nó foi a maior mudança de lifestyle da Humanidade. Não havia nem high-school pra uma cheerleader ser invejada pelo seu nó mais moderno, enquanto os nerdhertais (nerds que liam revistas hentais) apanhavam do capitão do time de futebol da escola. Nenhum homem das cavernas de 1000 anos de idade jamais falaria "no meu tempo que era bom", caso tivesse nascido em 9008 a.C. e conhecido, com clareza e lucidez, o ano de 8002 a.C. Por que ? Porque nada havia mudado no período de diversas gerações. Antes as coisas mudavam muito lentamente. Repare o que mudou do ano 1000 para 1500. Particularmente pra mim, enquanto desenhista, a mudança é gigante: no ano 1000 ninguém conseguia desenhar perspectiva ! Todos os desenhos e pinturas eram chapadões, como os desenhos dos egípcios antigos ou um pouco mais elaborados (já faziam pessoas com rosto de frente, óóó). Em 1500 eram outros 500, os desenhos eram muito mais ricos, tinham mais cores, tinham perspectiva, volume e qualquer pessoa com, no mínimo, um olho bom, poderia reconhecer alguém numa pintura. As roupas eram mais confortáveis, os castelos começaram a se tornar mais aconchegantes, enfim, em toda a cultura e nos hábitos das pessoas, estes 500 anos trouxeram mudanças muito mais substanciais do que nos 2 mil anos que separaram 9000 a.C. de 7000 a.C.
Veja o que mudou de 1900 para 2000. Apenas 100 anos fizeram o Mundo inteiro mudar mais do que nos 500 anos lá na Idade Média ou naqueles 2 mil na Idade Antiga. E de 2000 para 2008, então ??? Antes as músicas com 5Mb eram arquivos pesados, agora manipulamos da mesma maneira os filmes de 700Mb.
Esta aceleração exponencial fez a percepção do tempo se descolar da passagem do tempo real, e as pessoas já consideram o próprio tempo uma imensa tartaruga cósmica. Querem a prova ? Aí está: vão a uma loja super descolada, lá vocês podem encontrar bonés com abas descascadas e jeans que vêm da fábrica já desbotados. São mercadorias novas, ninguém as usou, só têm a aparência de desgastados e as pessoas compram estes produtos novos que têm aparência de tempo de uso, já não é preciso usar um jeans por 10 anos para ele parecer surrado, você pode comprar um novinho e, mesmo assim, andar por aí mostrando a todos que você e aquele jeans têm muitas histórias pra contar.
Outro sintoma deste fenômeno pode ser visto na televisão. Vários clipes com aquele tratamento pra parecer de 2 décadas atrás. Você certamente já viu bandas dizendo que filmaram em super8, ou que aplicaram um filtro de computador pro vídeo ter uma textura datada, independetemente de ser bonito, o recurso de envelhecer artificalmente um vídeo têm como objetivo a apropriação de um tempo que ninguém está disposto a acompanhar. É a falta de paciência com o próprio tempo, atenção para não confundir com antipatia pelo progresso das coisas, é ótimo que o dinheiro circule na bolsa de valores com agilidade e que todos os serviços da minha cidade fiquem abertos 24 horas de domingo a domingo. O foco aqui é o desinteresse em viver as histórias que, depois, você poderá contar. Há esta urgência em ter um monte de capítulos na nossa biografia, mas não há, com a mesma intensidade, fôlego para escrever tanta coisa. Como se só se fizesse as coisas pra contar aos outros, não se faz mais nada pelo interesse em fazê-las.
Saturday, February 02, 2008
Sunday, January 20, 2008
Lançamento da revista Front 19 (tema: Sonho)
Local: Livraria HQMix. Praça Roosevelt, 142 - Centro SP. Tel: (11) 3258-7740
Data: 26/01/2008
Horário: a partir das 19h30
Mais informações aqui: Via Lettera e aqui: Front Online.
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